José Wenceslau de Souza Júnior
Em um mundo cada vez mais globalizado, é natural que as culturas troquem influências, especialmente no campo da linguagem. No entanto, o que deveria ser uma troca rica e equilibrada muitas vezes se transforma em um desequilíbrio preocupante, especialmente quando nossa própria língua, o português, é colocada em segundo plano.
Dia desses, durante uma apresentação, percebi (e venho percebendo há tempos) o quanto usamos palavras estrangeiras para tudo.
Basta assistir a uma palestra ou participar de reuniões corporativas para entender o quanto o inglês invadiu nosso vocabulário.
Palavras como feedback (em vez de “retorno”), case (em vez de “caso”), upgrade (em vez de “melhoria”) e tantas outras são usadas com frequência, mesmo quando temos termos equivalentes em português que expressam as mesmas ideias com clareza e riqueza.
Esse fenômeno, muitas vezes chamado de “americanização da linguagem”, vai além de um modismo. Ele reflete, em certa medida, a forma como valorizamos culturas estrangeiras em detrimento da nossa própria identidade linguística e cultural. Afinal, será que precisamos de palavras em inglês para transmitir conceitos que nossa língua já traduz tão bem?
Mais preocupante ainda é o impacto dessa tendência em áreas como a educação e a gestão. Jovens profissionais e empreendedores, ao serem expostos a esse vocabulário, podem acabar acreditando que usar palavras em inglês é sinônimo de competência ou modernidade. Isso pode criar barreiras desnecessárias e desvalorizar nossa rica língua portuguesa, que é reconhecida mundialmente por sua beleza e complexidade.
Nossa língua é mais do que um meio de comunicação; ela é parte essencial da nossa identidade. É por meio do português que expressamos nossos sentimentos, contamos nossas histórias e transmitimos nossa cultura. Substituí-la indiscriminadamente por termos estrangeiros é abrir mão de algo que nos define como povo.
Isso não significa que devemos rejeitar toda e qualquer influência estrangeira. O uso de palavras em inglês é inevitável em algumas áreas, especialmente no universo tecnológico, onde muitos conceitos nasceram em países de língua inglesa. No entanto, o uso consciente é o que faz a diferença. Antes de adotar um termo estrangeiro, por que não refletir: “Existe uma palavra em português que posso usar aqui?”
Meu objetivo com este artigo não é condenar quem usa palavras em inglês, mas convidar todos a refletirem sobre o papel que desempenhamos na valorização da nossa língua. Em vez de nos rendermos cegamente ao modismo, podemos ser agentes de mudança, promovendo o uso do português nas empresas, nas escolas e no dia a dia.
A língua portuguesa é um patrimônio cultural que merece ser preservado e celebrado. Vamos valorizá-la, usá-la e ensiná-la com orgulho. Afinal, se nós não fizermos isso, quem fará?
* José Wenceslau de Souza Júnior é empresário há 40 anos no comércio de materiais de construção e presidente do Sistema Comércio de Mato Grosso, formado por Fecomércio, Sesc, Senac e IPF-MT.